Buscar auxílio na psicoterapia ou psiquiatria ainda hoje são ações que sofrem preconceito, e são malvistas por uma grande maioria de pessoas. Nada mais comum do que ser chamado de maluco, problemático ou coisas piores.
Além disso, o próprio fato de admitir para si mesmo que necessita desse tipo de ajuda é um passo importante e difícil para qualquer pessoa. Não importa o tipo ou a intensidade do problema. Julgar é fácil quando não é conosco né?
– “Ah se fosse comigo, já estava resolvido”
– “Deixa de preguiça”
– “Enfrenta isso, deixa de ser covarde”
Não vou nem perder tempo criticando esses absurdos. Basta saber que eles existem, e em muito maior quantidade que esses pequenos exemplos.
Então, como eu dizia, alguém que supera seus problemas, o preconceito, a desinformação e sai em busca de um psicólogo e/ou psiquiatra (não, eles não são a mesma coisa) se depara com outros problemas…qual profissional escolher, reputação, indicação, entre outros…ufa!
E aí…hora do “chefe final” …você tem que passar essa última fase que é encontrar um profissional capaz de te ouvir sem julgar, que consiga te ver pelo que você é, e que consiga, aos poucos, te ajudar na aventura de crescer como pessoa e lidar com seus problemas.
“Mas o que é que isso tem a ver com BDSM?” Pergunta você que leu até aqui – ou o coro dos apressados de plantão – e eu ainda coloco imagens no texto, pra acalmar os ânimos…
Tem a ver por que se você pegar tudo que eu escrevi acima e multiplicar por 10, você vai ter um vislumbre do que é essa situação para uma pessoa “do meio” BDSM.
Além de tudo isso, temos a marginalização da subcultura BDSM, um preconceito mais elevado, ridicularização de fetiches e práticas…
O mais grave: Os psicólogos no Brasil não estão preparados, nem culturalmente, nem no nível da formação, que carece de orientação a esse respeito. Para se ter uma ideia:
O DSM-IV-TR[1] (01-07- 2000, anterior à versão 5) definia o sadomasoquismo como um transtorno parafílico, caracterizado por fantasias, impulsos ou comportamentos sexuais envolvendo atos reais (não simulados) de humilhação, sofrimento físico ou psicológico, que causavam sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
Com a chegada do DSM-5 (18-05-2013), houve uma mudança significativa. O sadomasoquismo foi reclassificado como “Transtorno Parafílico”, mas apenas se os comportamentos ou fantasias causassem sofrimento ou prejuízo ao indivíduo ou envolvessem parceiros não consensuais. Caso contrário, práticas sadomasoquistas consensuais não são mais consideradas patologias.
[1] Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – ou, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

Um sinal de evolução...

Será este seu futuro Psicoterapeuta?
Essa mudança reflete uma abordagem mais inclusiva e menos patologizante, reconhecendo que práticas consensuais podem fazer parte de uma sexualidade saudável.
Eu estou trabalhando em uma iniciativa de criar aqui um atendimento (caso você ainda não saiba, sou Psicólogo e Psicoterapeuta) baseado no que lá fora se conhece como “Kink Aware Therapy” ou “Kink Affirmative Therapy” – algo como Terapia Kink[1] Consciente ou Terapia Afirmativa Kink.
Mas enquanto isso não acontece, não desistam. Sei que é complicado, especialmente a parte de se expor a uma outra pessoa sobre algo que geralmente é muito íntimo, em grande parte um segredo, por diversas razões.
Quem de nós – o meio – já não se achou doido, já tentou desistir, já jogou tudo fora, e achou que ia ficar bem? (O que? Sim, eu me incluo nesse grupo). O problema é que não dá para jogar fora algo que é parte você. Algo que não é uma doença, não é uma mania, não é uma moda.
Não desista de buscar ajuda. Dá trabalho, mas vale a pena.
[1] Mantive a palavra no original em inglês porque ainda não achei uma tradução satisfatória.
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