Marcas do Que se Foi…

silhueta de uma mulher de perfil em, fundo escuro com um halo de energia em volta da cabeça

Antes que os afoitos pensem bobagens, não falo aqui de marcas de cane, chicote, ou congêneres…embora elas possam estar relacionadas ao que estou falando em algum nível.

Eu sou um cara privilegiado. Não tive muitos relacionamentos BDSM, mas os que tive foram duradouros e marcantes, não só no tempo, mas , principalmente na qualidade.

Não quero dizer com isso que eu sou especial. Eu cometo muitos erros, mas aprendo com eles. A qualidade a qual me refiro é a de que tive o privilégio de me relacionar com pessoas que, cada uma de sua forma, permitiram que desejos se encontrassem, e que pudessem ser materializados em experiências inesquecíveis (bem , pelo menos do meu ponto de vista).

Não apenas porque práticas puderam ser executadas de forma prazerosa e satisfatória, mas também pelos detalhes que acabam marcando os momentos. Lugares, cheiros, sons…

Um lugar pode não ser o melhor, mas pode ter um trem que “só passa uma vez” e cujo som ocorria várias vezes ao dia.

Flores amarelas podem ganhar um significado especial. Não falo de romance, e sim de detalhes que emolduram uma experiência vívida e intensa.

Pode ser uma primeira vez exercendo um papel que nunca pensou e tirar o máximo dela, acrescentando uma vivência a mais.

– Silver, isso parece um filme da sessão da tarde! E o BDSM?

Suspiro…respirar fundo nos permite focar no que se planejou. Entre todos esses detalhes, temos a evolução do uso das cordas, e as inebriantes reações de quem as recebe com tesão e acrescentam uma dimensão extra , não só como uma forma de imobilização, que já é excitante por si só, mas como uma realização de um outro nível. Esse encontro de desejos multiplica o impacto e gera uma memória sensorial.

Uma pessoa que se ajoelha espontaneamente por admiração, mesmo que não estivesse em seus planos…

Lágrimas de quem duvidava que fosse chorar, ao mesmo tempo em que provocar as lágrimas fosse uma superação e certeza de crescimento e possibilidades.

Os exemplos são diversos, mas não estou escrevendo uma biografia. O ponto aqui é: as marcas são indeléveis porque o ambiente para a experiência foi criado ao se ouvir o outro. Somente através do diálogo pode se descobrir o quanto o que você quer corresponde ao que o outro também deseja. E somente a partir daí a prática ocorre e concretiza a idéia em ação.

Imagem de um chicote de couro marrom sobre um piso cinzento de madeira.

Não é bem dessas marcas que estou falando...se bem que, talvez...

Se você quer um(a) escrava(0) que se submeta a humilhações, tortura física, e que seja obediente , busque uma pessoa que seja segura, que tenha uma autoestima alta e que tenha certeza de que quer passar por isso.
Se você deseja um Dom que tome o controle mas não é masoquista, busque alguém que tenha o foco principal no controle e não tenha o impact play como meta.
Vejam, relações evoluem , limites se expandem, as pessoas mudam. Mas se a mudança não for recíproca, as marcas serão de outra ordem. Serão as marcas da insatisfação, da decepção e da tristeza.  Elas também ficam, mas geralmente , não são memoráveis no sentido de se ter prazer ao relembrá-las.

Tudo isso vale para uma “sessão” avulsa, que pode ser porque conscientemente se decidiu viver uma experiência, pode ser uma primeira vez para se decidir sobre o futuro, ou pode ser a concretização do primeiro passo para um relacionamento duradouro. Esses são aspectos cuja clareza às vezes fica em segundo plano mas que são superimportantes para que as coisas fluam como se espera. Não tem um tipo de encontro melhor que o outro todos são válidos. Mas você precisa ter certeza pra você e deixar MUITO claro para a outra pessoa que é isso que você quer. Não importa se você é Top ou bottom, não crie expectativas equivocadas apenas pra suprir sua necessidade.

E, quando perceber que algo não está funcionando, deixe isso claro. Não é fácil fazer isso. Mas prosseguir incomodado(a) também não é bom. É um momento superdelicado, e estar na pele de quem se incomoda é bem difícil.

Se você chegou até aqui, pode estar tendo a noção de como é complicado construir e manter um relacionamento BDSM, seja do “sabor” que você preferir .

Não perca o outro de vista. Escute, converse. Não importa o quão exigente e controlador(a) você seja como Top, não importa o quão submissa(o) e ávida(o) por controle você seja como bottom.

Porque as marcas existirão. Tanto as desagradáveis como as sublimes. Busque as últimas, faça o seu melhor. Quando não der, pare, aprenda, reconstrua e tente novamente.

Porque , como diria Cazuza em “Companhia” , em cada pessoa que tocamos deixamos uma pista do nosso caminho.

Imagem de uma corrente se partindo

Que as marcas sejam diferentes dessa..

Escrito por: <a href="https://tecendoatrama.blog.br/author/silver/" target="_self">Marcus Silver</a>

Escrito por: Marcus Silver

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Top. Kinbakushi. Rigger. Irônico. Psicólogo. Músico. Arquiteto de TI. Jogador de videogames e RPG. Se definir não é fácil. Tecendo a Trama é uma obra em constante evolução, assim como eu. Escrever é muito mais que produzir um texto, então coloco muita coisa em cada pedacinho aqui. Pronto. Bio feita. 😎

11/06/2025

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