
Entre Dois Mundos

Quando a gente inicia no mundo D/S – BDSM, tudo é muito assustador, muito mais por nossas dúvidas e receios, talvez do que pelos encontros “ao vivo” de pessoas do meio, seja num bar ou numa festa.
Fico imaginando que, para quem têm um equilíbrio interno entre os dois lados do binômio D/s, S/M, isso deva ser um pouco pior. É, estou falando dos switches (aqui também já ouvi utilizarem o termo “switchers”).
Em um meio onde pretensos padrões e normas tentam ditar um modelo de comportamento, onde há regras sobre regras, posturas, tratamentos, alguém que consegue ter prazer transitando pelos dois lados é vítima de muito preconceito.
Pra começar, dentro de si mesmos: “Será que eu sou tão confusa que eu não sei se sou Domme ou sub?” ou “sinto prazer na dor, mas gosto de causar dor também…” e o clássico pelo qual todos passamos: “Será que eu tô maluco?”.
Uma vez conscientes de que o que sentem é compartilhado por mais pessoas, que não são ilhas, aí passam pela avalanche dos “Você está confuso porque é iniciante”; “deixa eu adorar seus pés Senhora, que irá esquecer essas idéias de submissão”; “Deixe de ser tola e ajoelhe-se cadela! Eu, o Supremo Master Blaster Alto Lorde Sacerdote de 7ºGrau do Círculo Iniciático do Manual Sagrado do BDSM, estou ordenando!” (Putz, deu canseira até pra escrever).
Fato é que as mesmas imposições de asneiras que nos rodeiam em quantidades muito acima das desejadas, atingem quem é switch de forma mais contundente talvez, porque se parte da presunção de que eles estão errados em ser como são ou estão confusos e não sabem o que querem ou são.
Na boa? Acho que switches são pessoas raras que conseguem o melhor de dois mundos. Que vivem um prazer intenso de navegar pelo mar da dor e do prazer, de mergulhar nas águas da dominação e submissão, e de se aventurar nas delícias do lado que estiver batendo mais forte.
Eles tem passe livre. Uma vez que param de questionar a si mesmos e assumem a plenitude do prazer cujas fronteiras são
apenas seus próprios limites, acho que seus horizontes devem ser mais extensos e belos.
Claro que, como tudo tem seu ônus e seu bônus, eles também tem que lidar com o dobro de chatos, arrogantes, pegajosos, doidos de pedra, perdidos e idiotas que assolam os dois lados …
Só tenho a dizer que tiro meu chapéu para eles, numa saudação carinhosa…Vivam e deixem os preconceituosos com a cara no chão, quem sabe eles não levantam mais. Que os cuspidores de regras se cansem de tentar suas imposições sem graça e cheias de uma pompa vazia e estéril. E que conheçam boas pessoas de ambos os lados da fronteira…
Publicado originalmente em 28 de setembro de 2013
no duvidas more……causar a dor,não é o que desejo. Acredito apenas que meus limites venham a ser suaves, suaves como o kinbaku….pero non mucho.
Kinbaku pode ser doloroso também…não se atenha apenas à estética, lembre-se que tem como “pai” o Hojojutsu… Mas aprecio que esteja clareando seu caminho.